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A Máscara e o Aprimoramento: Reflexões sobre Identidade e Reconhecimento na Maçonaria e na Obra de Frantz Fanon

A busca por autenticidade e reconhecimento em meio a estruturas sociais e iniciáticas que exigem performance e conformidade.
Assim como o sujeito negro em “Pele Negra, Máscaras Brancas” luta contra a imposição de uma identidade falsa, o maçom enfrenta o desafio de viver os princípios da Ordem além dos títulos e graus. A verdadeira aceitação, em ambos os casos, exige autenticidade e coerência entre o ser e o agir.
Na obra seminal Pele Negra, Máscaras Brancas, Frantz Fanon expõe a dolorosa realidade de um sujeito negro que, para ser aceito em uma sociedade dominada por valores eurocêntricos, precisa moldar-se à imagem do branco. A aceitação social não ocorre pelo que ele é, mas pelo que consegue imitar ou performar dentro dos padrões estabelecidos por essa estrutura excludente. Assim, ele veste uma “máscara branca”, buscando reconhecimento em um mundo que não o vê como legítimo em sua essência.

Esse dilema psicológico e identitário encontra um paralelo intrigante em outra esfera: o pertencimento à Maçonaria. Muitos que ingressam na Ordem acreditam que, ao serem iniciados e ostentarem títulos ou graus, automaticamente se tornam maçons. No entanto, o verdadeiro reconhecimento como maçom não vem do simples pertencimento formal, mas da vivência sincera dos princípios maçônicos. Assim como o negro de Fanon luta contra a imposição de um molde que não lhe pertence, o maçom precisa questionar se sua jornada é autêntica ou apenas uma performance social para aceitação entre seus pares.

A questão central que se impõe, tanto no contexto racial quanto no iniciático, é: o que significa ser reconhecido? Para Fanon, o negro só é “aceito” se abdicar de sua identidade original, tornando-se uma sombra do colonizador. Para o maçom, a aceitação real não vem do título, mas da prática constante da fraternidade, humildade e aperfeiçoamento pessoal. Declararmo-nos maçons sem que sejamos reconhecidos como tal por nossos atos é tão vazio quanto um homem negro que se vê forçado a negar sua cultura para ser aceito em uma sociedade racista.

Não declarar-se maçom, por receio ou conveniência, pode ser interpretado como uma negação da própria identidade iniciática, assim como a negação de suas raízes pode alienar o sujeito negro descrito por Fanon. A verdadeira libertação, em ambos os casos, vem da aceitação de si mesmo e da construção de uma identidade baseada na essência, não na mera aparência.

A Maçonaria, em sua essência, convida à lapidação da pedra bruta, à constante busca pelo aprimoramento moral e intelectual. Esse processo só se completa quando o indivíduo deixa de lado a necessidade de afirmação externa e passa a ser reconhecido naturalmente como um verdadeiro maçom. Da mesma forma, Fanon propõe que a libertação do negro não está em vestir a máscara do branco, mas em construir sua própria identidade, livre das amarras impostas pela sociedade.

No fim, tanto na Maçonaria quanto na sociedade, o verdadeiro reconhecimento não se dá pela mera adesão a um grupo ou título, mas pela coerência entre o ser e o agir. A autenticidade, portanto, é o caminho para a libertação e o reconhecimento legítimo, seja na luta contra o racismo, seja na busca pelo aprimoramento pessoal dentro da Ordem.



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