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Última Flor do Lácio és, a um tempo, esplendor e sepultura

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Olavo Bilac é considerado o mais importante poeta do Parnasianismo, escola literária ou manifestação poética do Realismo/Naturalismo que surgiu no século XIX e caracterizava-se por buscar como ideal de arte o gosto pelas formas perfeitas e fixas, emprego da língua com extremo rigor gramatical e vocabulário culto, prezava a metrificação rígida e linguagem exageradamente erudita, de difícil compreensão.
O soneto de Bilac retrata o processo histórico de formação da Língua Portuguesa, a última língua neolatina formada, que surgiu do latim vulgar na região italiana do Lácio, falado por pessoas menos favorecidas economicamente, como eram vistos os soldados e camponeses. Bilac defendia a ideia de que a língua que se originava em detrimento do latim que caía em desuso era uma língua rústica, grosseira, mas que através de um processo de elaboração, lapidação, poderia ser moldada, enquadrada nas normas estéticas que ele acreditava.
A linguagem empregada nos textos dessa época não era acessível a todas as camadas socioeconômicas da população, uma vez que grande parte era analfabeta, sendo privilégio apenas da classe letrada.
Na concepção parnasiana só existia poesia, cultura e literatura dentro dos seus parâmetros específicos, a linguagem deveria seguir a norma gramatical da Língua Portuguesa clássica de Portugal.

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