De acordo com Fanon, a branquitude opera como uma norma universal e implícita, contra a qual outras identidades raciais são comparadas e, muitas vezes, inferiorizadas. Ao destacar Pomerode pela “cor da pele das pessoas”, o governador posiciona a branquitude como um elemento diferencial e valioso, alimentando um discurso que naturaliza privilégios associados a essa característica. Essa retórica ignora a diversidade étnica e racial do Brasil e reafirma a supremacia branca como um modelo cultural idealizado.
A fala do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, ao afirmar que uma cidade “se destaca pela cor da pele das pessoas”, carrega uma carga simbólica significativa e preocupante. Essa fala, ressoa com o histórico de exclusão racial presente no Brasil, um país marcado por processos estruturais de racismo e adquire contornos ainda mais problemáticos ao evidenciar como discursos institucionais podem perpetuar o racismo estrutural.
A declaração não apenas reproduz uma narrativa de exclusividade, mas também reforça estigmas associados às populações não brancas, que historicamente têm sido relegadas à invisibilidade ou vistas como “fora do lugar”.
Racismo Estrutural e Subjetividade
Fanon enfatiza que o racismo não é apenas uma estrutura social, mas também um fenômeno subjetivo e psicológico. Para ele, discursos como o de Jorginho Mello podem moldar percepções e reforçar traumas coloniais em indivíduos e comunidades. A exaltação de uma característica fenotípica em detrimento de outras não ocorre de maneira neutra; ela reverbera em uma sociedade ainda marcada por desigualdades raciais.O Brasil, embora se apresente como uma nação miscigenada, carrega um legado de racismo que permanece vivo em práticas institucionais e discursos como o do governador. A aparente valorização da “cor da pele branca” reflete a persistência de um imaginário racial que enaltece a herança europeia, enquanto invisibiliza ou desvaloriza as contribuições de populações indígenas e negras.
O Discurso como Ferramenta de Exclusão
Sob a ótica de Fanon, a fala de Jorginho Mello não pode ser interpretada como uma simples “distorção”, conforme alegado pelo próprio governador. Ao contrário, ela faz parte de um sistema maior de exclusão racial, no qual o poder político frequentemente legitima hierarquias raciais por meio de discursos aparentemente inofensivos.O racismo na fala de Mello se configura pela escolha deliberada de destacar a branquitude como um diferencial positivo, o que reforça estereótipos e deslegitima a pluralidade racial. Tal atitude é especialmente grave em um país onde o racismo estrutural impacta diretamente o acesso a direitos básicos, como educação, saúde e segurança.
Frantz Fanon nos ensina que o racismo não se restringe a atos explícitos de discriminação, mas está profundamente enraizado em discursos, símbolos e práticas cotidianas. A declaração do governador Jorginho Mello é um exemplo claro de como narrativas aparentemente neutras podem perpetuar e reforçar desigualdades raciais históricas. Reconhecer o racismo implícito nessa fala é um passo essencial para desmantelar estruturas de exclusão e construir um Brasil mais justo e igualitário.