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A Polarização Política e a Crítica à Classe Média na Música dos Engenheiros do Hawaii

A polarização entre Lula e Bolsonaro dominou o cenário político brasileiro nos últimos anos, refletindo não apenas divergências ideológicas, mas também uma crise de identidade e valores na sociedade, especialmente na classe média.

A música A Revolta dos Dândis (1987), dos Engenheiros do Hawaii, parece antecipar esse clima de confusão e apatia crítica quando diz: “Já não vejo diferença entre os dedos e os anéis / Já não vejo diferença entre a crença e os fiéis”. A letra, que brinca com a indistinção entre opostos, dialoga de maneira irônica e ácida com a forma como a classe média lida com a política, muitas vezes oscilando entre extremos sem uma reflexão profunda.

A Ilusão da Escolha e os “Três Poderes”

A música satiriza a falsa sensação de escolha ao mencionar “Os Três Patetas, os três poderes”, reduzindo instituições fundamentais a uma caricatura. Essa crítica ecoa no atual cenário, em que muitos eleitores, especialmente da classe média, alternam entre Lula e Bolsonaro como se fossem opções radicalmente distintas, mas sem questionar as estruturas que perpetuam desigualdades. A linha “Ascensão e queda, são dois lados da mesma moeda” poderia ser uma metáfora para a política brasileira, em que figuras antagônicas se alternam no poder sem que as demandas populares sejam verdadeiramente atendidas.
A Classe Média e a Falta de Projeto Coletivo
O trecho “Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo / Mas não há mais muito tempo pra sonhar” expõe uma paralisia da classe média, que, mesmo insatisfeita, não consegue romper com o ciclo de individualismo e conformismo. Enquanto a polarização Lula x Bolsonaro consome debates, questões estruturais—como reforma agrária, taxação de grandes fortunas e direitos trabalhistas—são deixadas em segundo plano. A música sugere que, no fundo, a sociedade sabe o que precisa mudar, mas falta coragem para agir.
Raiva e Razão: O Muro Inexistente
“Pensei que houvesse um muro / Entre o lado claro e o lado escuro” poderia ser uma alusão à ilusão de que há um abismo entre esquerda e direita, quando, na prática, ambos os lados frequentemente reproduzem lógicas de poder semelhantes. A classe média, muitas vezes refém de discursos moralistas ou econômicos, acaba alimentando essa divisão sem perceber que, no fim, “não há mais diferença entre a raiva e a razão”.
A Revolta dos Dândis e o Presente

Se em 1987 A Revolta dos Dândis soava como um alerta, hoje ela parece uma diagnose precisa. A polarização Lula-Bolsonaro escancarou como a classe média, em vez de buscar transformações reais, se prende a falsas dicotomias. A música questiona: “Há tantos sonhos a sonhar, há tantas vidas a viver”—mas enquanto a política for reduzida a um espetáculo de opostos que se alternam sem mudar o jogo, continuaremos presos na mesma roda-viva. O desafio, então, não é escolher entre Lula ou Bolsonaro, mas construir algo que vá além deles.

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