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28 de dezembro de 2024. Sábado. Vou à padaria tomar um café com minha caçula de 7 anos. O Doutor passa e senta numa cadeira nas proximidades de minha mesa. Usa óculos. Veste uma calça jeans e uma camisa cinza. Sempre o vejo nesta padaria. Sei que foi reeleito. Minha curiosidade pergunta ao oráculo moderno quantos votos recebeu. No pleito anterior teve 1.839 e neste, 3.511 votos para Vereador. Lembro-me de ter levado minha tia para uma consulta e ao adentrar em sua sala assistia a resenha de seu time do coração (Botafogo Futebol Clube) e olhou para a minha tia rapidamente e voltou a olhar para a tela da televisão. Então, após 30 segundos, nos deu o diagnóstico: é pênfigo foliáceo, vulgo fogo selvagem. Minha tia chorou de alívio. Jamais esquecerei deste acontecimento porque ela padecia e não sabia o que era. De pronto, o Doutor descreveu a receita e deu um remédio que tinha consigo. Fez um comentário sobre a resenha esportiva e nos desejou boa sorte. O Doutor é assim. Homem simples de papo reto. Atendeu gratuitamente. Nesta época não passava por sua cabeça ser candidato.
Fui até a sua mesa e disse-lhe que iria fazer uma matéria abordando sua expressiva votação. Ele pediu para que eu sentasse e relatou que nesta candidatura fez campanha e foi recebido por muitos que o reconheceram por terem sido atendidos quando crianças e jovens. Enquanto ele me contava detalhes de sua campanha, uma senhora nos interrompeu e disse que votou nele e que votará em outras que virão. Retomando a sua fala diz que irá fazer uma cirurgia para por stent, um tubo expansível que é inserido no interior de canais sanguíneos e tem como principal função evitar a obstrução por estreitamento das vias. Em seguida, oferece a minha filha um sorvete. Ela não aceita. Ele se levanta e compra dois chocolates e a entrega. Ela aceita e agradece. Ouço dele a seguinte frase: homens de bem precisam participar da política. Esta frase ressoa com a crítica de Brecht, que alerta para o risco de deixar os espaços políticos desocupados ou entregues a indivíduos pouco comprometidos com o bem comum. Essa responsabilidade que o Doutor demonstra, não apenas ao exercer sua profissão com humanidade (como no caso do atendimento), mas também ao se envolver ativamente na política, apresenta um contraste ao desprezo pela política que Brecht denuncia.
Nesse prumo, o Doutor Macário Barros reforça a importância da conexão entre ações individuais e decisões coletivas, mostrando que, ao contrário do analfabeto político, que Brecht descreve como alheio às consequências de sua apatia, a cidadania ativa contribui para construir um contexto social mais consciente e participativo.
