A realidade social e os desafios do presente evidenciam que as profissões de professor e policial possuem mais semelhanças do que pode parecer à primeira vista. Essas semelhanças não se limitam ao baixo padrão de remuneração vigente no Brasil, aos riscos inerentes aos ofícios — algo que se intensificou para os docentes nas últimas décadas — e ao reduzido reconhecimento social, mesmo sendo profissões essenciais.
Além de compartilharem origens sociais semelhantes e enfrentarem ameaças, esses profissionais vivenciam a experiência de se dedicarem a tarefas relevantes e subvalorizadas. Também compartilham queixas sobre a falta de apoio da sociedade e sobre as omissões das autoridades que agravam as crises em suas áreas.
No campo da educação, o Brasil ocupa posições preocupantes em rankings internacionais. Segundo dados mais recentes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), o país ficou em 57º lugar entre 78 países em leitura e em 66º em matemática. Esses índices evidenciam a fragilidade do sistema educacional e seu impacto no desenvolvimento nacional. No campo da segurança, os números também são alarmantes. Conforme o Atlas da Violência 2023, o Brasil registrou uma taxa de homicídios de 23,4 por 100 mil habitantes em 2021, uma das mais altas do mundo. O índice de mortalidade juvenil segue igualmente elevado, comprometendo o futuro do país.
Recentemente, o Ministro da Justiça propôs a federalização das polícias como forma de melhorar a segurança pública, centralizando as diretrizes e aumentando a eficácia no combate ao crime organizado. De forma semelhante, o Senador Randolfe Rodrigues relatou a proposta de federalização da educação básica, buscando garantir padrões mais elevados e equitativos de qualidade em todo o país. Essas iniciativas ressaltam a necessidade de reformas estruturais em ambas as áreas.
Professores e policiais frequentemente atribuem seus fracassos às omissões da sociedade e ao contexto social em que atuam. Para os professores, a falta de envolvimento das famílias é um fator crítico. Já os policiais destacam a ausência de apoio da população e as dificuldades estruturais, como legislação inadequada e falta de recursos. Ambas as categorias compartilham um discurso que aponta a crise da família e a violência estrutural como causas principais de seus desafios.
Porém, há um aspecto comum que merece reflexão: o caráter centralizador ou o “exclusivismo” presente nas atitudes. Essa postura contribui para o isolamento e a resistência às críticas externas, dificultando a construção de soluções coletivas. Reuniões escolares, por exemplo, muitas vezes se limitam à comunicação unilateral de decisões, desencorajando a participação ativa das famílias. Entre os policiais, há resistência à transparência e à prestação de contas, especialmente quando confrontados com relatórios sobre abusos e violência.
A superação dessas crises exige o abandono de estruturas ultrapassadas e a adoção de abordagens mais democráticas e inclusivas. No âmbito da educação, é fundamental repensar os currículos e investir na formação continuada de professores, valorizando a participação das famílias e da comunidade. Na segurança, é imprescindível aumentar a transparência e promover uma atuação baseada em direitos humanos.
A valorização dessas profissões passa pela liderança baseada no diálogo e na colaboração. Professores e policiais não podem continuar isolados; é necessário criar espaços para a participação social e a construção de soluções. Os índices alarmantes de educação e segurança são um chamado urgente para a transformação, que passa pela superação do individualismo e pela construção de um senso de comunidade comprometido com o futuro do país.