Dentre essas influências, destaca-se a filosofia de Aristóteles, cujo pensamento é notoriamente perceptível no Rito Moderno, também conhecido como Rito Francês. Esse rito, criado no final do século XVIII, buscou adaptar os princípios maçônicos à racionalidade iluminista e à busca por uma ética universal, aspectos intimamente ligados ao legado aristotélico.
A Ética Aristotélica e os Valores do Rito Moderno
A filosofia moral de Aristóteles, exposta principalmente na obra Ética a Nicômaco, gira em torno da busca pela eudaimonia, ou seja, a realização da felicidade por meio da virtude. Para o filósofo grego, a virtude é um equilíbrio entre os extremos – o “justo meio” – alcançado pelo exercício da razão prática. Esse conceito ressoa profundamente nos ensinamentos do Rito Moderno, que promove o aperfeiçoamento moral do indivíduo como ferramenta para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
O Rito Moderno enfatiza a autonomia da razão e a liberdade individual, valores que ecoam a visão aristotélica de que o ser humano é dotado de capacidade racional para discernir entre o bem e o mal. Nesse contexto, a ética maçônica no rito não é dogmática, mas sim um convite à reflexão e ao autoconhecimento, fundamentos que também são centrais no pensamento de Aristóteles.
A Filosofia Natural de Aristóteles e a Construção Simbólica
Outro ponto de convergência entre a filosofia de Aristóteles e o Rito Moderno está na sua abordagem da natureza e do conhecimento. Aristóteles concebia o universo como um sistema ordenado, onde cada elemento possui uma finalidade (telos). Essa visão influenciou profundamente a tradição simbólica maçônica, especialmente na interpretação do mundo como um grande templo em construção, onde cada indivíduo contribui para a harmonia universal.
No Rito Moderno, a noção de progresso e aperfeiçoamento está intrinsecamente ligada à ideia de que o ser humano, tal como uma pedra bruta, deve ser trabalhado e lapidado para atingir sua finalidade maior. Esse simbolismo, presente nas cerimônias e instruções do rito, reflete o espírito teleológico aristotélico, que atribui sentido e propósito a todas as ações humanas.
A Influência Iluminista e a Redescoberta de Aristóteles
Durante o Iluminismo, período em que o Rito Moderno foi consolidado, Aristóteles foi reinterpretado à luz de uma perspectiva mais racionalista. O enfoque em uma ética prática, desvinculada de dogmas religiosos, e na valorização da experiência como base do conhecimento foram aspectos herdados diretamente da filosofia aristotélica e incorporados à Maçonaria.
Nesse sentido, o Rito Moderno se apresenta como um rito humanista e progressista, alinhado aos ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade. Essa abordagem dialoga diretamente com a visão de Aristóteles sobre o homem como um “animal político”, cuja realização plena só é possível no contexto de uma sociedade organizada e ética.
A influência da filosofia de Aristóteles no Rito Moderno da Maçonaria é evidente tanto em sua dimensão ética quanto em sua simbologia. A busca pelo equilíbrio, pela racionalidade e pela virtude, pilares do pensamento aristotélico, permeia os princípios e práticas desse rito. Assim, o Rito Moderno não apenas reflete as ideias de Aristóteles, mas também as adapta a um contexto mais contemporâneo, reafirmando a relevância de sua filosofia como base para a construção de um mundo mais justo e iluminado.