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Vinte anos sem Paulo Francis

“Às vezes acho que aguentei tanto tempo viver no Brasil porque estava em estado etílico na maior parte do tempo”. (Paulo Francis)

No último sábado, dia 04 de fevereiro, fez vinte anos da morte do jornalista Paulo Francis. Nascido Franz Paul Trannin da Matta Heiborn, no Rio de Janeiro, em 1930, neto de alemães, estudou em escolas católicas até entrar para a Faculdade Nacional de Filosofia, nos anos 50. Nesse período fez parte do Centro Popular de Cultura da UNE e foi ator amador. Abandonou o curso no Brasil para fazer pós-graduação em literatura dramática na Universidade de Columbia, que também não concluiu. Começou no jornalismo como crítico de teatro no Diário Carioca, entre 1957 e 1963. A partir desse ano, foi convidado por Samuel Wainer para assumir a coluna política no Última Hora. Foi contra o Golpe Militar de 1964 e durante a Ditadura Militar trabalhou no Pasquim.

Nos fim dos anos 70, Francis enveredou pela literatura. Em 1977, publicou Cabeça de papel, que teria sua continuidade com Cabeça de negro, dois anos mais tarde. Em 1982 é publicado Filhas do segundo sexo, com duas novelas que tematizava a emancipação da mulher de classe média na época. Em 1994, Francis publica Trinta anos essa noite, livro de memórias sobre a Ditadura Militar. Postumamente, foi publicado em 2008 o livro Carne viva, que seria o terceiro volume da trilogia que Francis pretendia escrever, junto com Cabeça de papel e Cabeça de negro.

Muito acreditam que o infarto fulminante que o matou foi consequência do estresse a que vinha sendo submetido nos meses anteriores à sua morte, quando foi processado por acusar, sem provas, os diretores da Petrobrás de possuírem US$ 50 milhões em contas na Suíça. Diante da condenação quase certa a pagar uma indenização milionária, o coração de Francis não suportou.

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Concorde ou não com ele, Paulo Francis era o tipo de jornalista que mexia com quem lia seus textos. A direita o acusava de comunista, a esquerda o acusava de reacionário. O fato é que Francis não tinha “papas na língua”. Era polêmico, às vezes insensato. Como na ocasião em que disse que era um absurdo um nordestino caipira como Gustavo Krause (que era pernambucano) ser nomeado ministro. Sabia falar mal de tudo e de todos como ninguém. Concordando ou não com Francis, não se pode negar que suas opiniões ácidas e divertidamente cáusticas eram inteligentes.

Sobre o filólogo e diplomata Antônio Houaiss, disse que era um “embusteiro e obscurantista”, “compilador de dicionários e enciclopédias” e que por usar uma linguagem rebuscada, todos achavam que era culto. Quando se referia a classe política não era menos incisivo. Falou que quando conheceu Ulisses Guimarães, teve que fazer “um esforço de vontade para não dar um salto para trás, fugindo do seu hálito”. Para ele, Sarney só poderia se considerado um escritor “num país de parca alfabetização”.

Em algumas ocasiões sua língua solta o colocou em situações vexatórias, se indispondo com muita gente, a ponto de sofrer agressões físicas. No caso, do ator Paulo Autran e do então marido da atriz Tônia Carreiro, Adolfo Celi, a quem acusou de se prostituir e vender fotos suas pelada. Paulo Francis falava besteiras, é verdade. Mas pensava. E numa época em que predomina o jornalismo chuchu, com seus discursos insípidos politicamente corretos, Paulo Francis faz falta.

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